Na minha infância era a festa mais esperada, a ansiedade era total, mesmo na pobreza do pós guerra, algo jamais visto na rica América. Contávamos os dias para o início do "Natale" que começava em 8 de dezembro e ia até a "vecchia befana" ou Epifânia ou o Dia de Reis.
Montam aqueles presépios e fazem "vigília" ou almoço de Natal, mas não muito com antigamente em que as mulheres, e toda família tinha muitas mulheres, e iniciavam os preparativos da "Tavola di Natale" com, no mínimo, uma semana de antecedência - as conservas, doces e licores eram preparados muito antes - "tutto fato in casa", naquelas cozinhas enormes, brancas e cheirosíssimas - aromas e perfumes raros hoje - peixes e frutos do mar, de todo tipo e variedade, stocafisso (bacalhau) e anguila capitone (enguia), massas recheadas e molhos insuperáveis de "pomodori sechi" ou de creme fresco com o queijo Pecorino original, sopas únicas, pães "caseracio" e mais, muito mais. Assim, aprendi.
Imaginem umas quatro "bisnonnas" e umas quatro "nonnas" juntas, cozinhando para o Natal! Nenhum Rosselini ou Fellini conseguiria imaginar, e nem o deslumbrante Visconti teria tanta sofisticação na pobreza como estas mulheres. Eu já tentei 'clonar' aqueles Natais, mas não foi possível, assim como nunca mais vi nem nos lugares mais luxuosos do mundo os perfumes e aromas daquelas festas. Acreditem, era assim, foi assim...
O Natal continua a maior festa da "Bell´Itália", nenhuma outra reúne tanto a família, os amigos e, até, os inimigos, todos em volta da "tavola" com toalhas vermelhas ou verdes, muitas de antigos enxovais, e exibindo tradições, de região a região, totalmente diferentes. Um patrimônio cultural riquíssimo, talvez único, onde se misturam religião, superstições e uma gastronomia inigualável e milenar.
O Natal foi introduzido como festa cristã no século 4 do Império Romano, antes do Natal cristão era a festa do Fogo e do Sol. Na antiga Roma havia os Saturnais em homenagem a Saturno, o deus da agricultura. Era um período de paz ( os romanos viviam em guerras ininterruptas) trocavam presentes e principalmente pródigos banquetes pantagruélicos.
Atualmente, o Natal italiano, e no mundo cristão, vem de tradições inauguradas no século 19 e é nesta festa onde vemos como o italiano é muito envolvido com antigas tradições religiosas e adepto da "Gula Natalina".
A "tavola" natalina italiana, mesmo nos dias atuais, de dietas, lights e dos "politicamente corretos", continua muito rica. As diferenças regionais continuam marcantes, embora com certas "globalizações" como, por exemplo, o Panettone, originalmente milanês e hoje símbolo natalino em toda a Itália e em muitos outros países, assim como o Pandoro, o Torrone e as Frutas Secas.
Outros costumes são seguidos a risca - na mesa, peixes de todo tipo, como a Enguia em especial (capitone é a enguia fêmea),Crustáceos, Moluscos e Bacalhau; Tortellini, Ravioli, Tortelli di Zucca (abóbora - antiga tradição no norte da Itália), Risotti, Cappone (um frango castrado) e Perus recheados; Sopas fantásticas, para a vigília, e doces como Zuppa Inglese (tradicionalíssima na Puglia onde eu nasci - feita com fatias de pão-de-ló embebido em rum ou licores, intercaladas com creme, frutas cristalizadas e amêndoas, servida gelada), Cassatas de Ricota "veras", Marzipãs, Tortas de Amêndoas e Castanhas, Nozes, Pasta Frolla, etc..etc..etc..Tudo regado a Licores, Espumantes ,Vinhos e Champagnes.
Não haveria como citar todas as tradições gastronômicas do Natal italiano. Mas, tenho certeza que hoje, nas "Tavolas di Natale" do mundo todo, a Itália se faz presente, pois é impossível pensar em Natal sem Panetone nas mesas natalinas...
E o Todrool vai tentar modestamente trazer algumas das delícias feitas lá.
Buon Natale a tutti!!
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